top of page

Carta de intenções – O que muda no planejamento anual de trabalho?

Foto do escritor: Ana Barbara Ana Barbara

Atualizado: 27 de dez. de 2020



Desde quando entrei na educação infantil em 2007, elaboramos o planejamento anual durante as primeiras reuniões pedagógica, antes mesmo de conhecer nossa turma, conversar com as crianças, sentir quais são seus interesses, como interagem e se relacionam, tampouco a realidade de suas famílias. O planejamento era padronizado: CONTEÚDO, ESTRATÉGIA, CAMPOS DE CONHECIMENTO e AVALIAÇÃO. Muitas vezes já escolhíamos o tema de um projeto anual também com seus OBJETIVOS GERAIS, OBJETIVOS ESPECÍFICOS, JUSTIFICATIVA, ESTRATÉGIA e AVALIAÇÃO.


Seguir estes padrões me passava a sensação de repetição. Era comum que os planejamentos fossem elaborados com os mesmos conteúdos de anos anteriores, já que nas Orientações Curriculares havia sugestões diretas para cada agrupamento, por isso parecia necessário fazer apenas revisão e atualização de alguns pontos.


Construir o planejamento desta forma me trazia muito incomodo. Começava nos campos de conhecimento. Como era confuso enquadrar determinada atividade em determinado campo de conhecimento. A contação de história a princípio era linguagem verbal. Mas também poderia ser linguagem artística, também poderia ser brincar e imaginar, natureza e cultura. Por vezes, eu “encaixava” uma atividade em vários campos, pois na dúvida era melhor garantir. Isso só nos leva a concluir o que já sabemos: não se fragmenta a aprendizagem.


Um planejamento construído nestas bases ficava alheio ás vivências do dia-a-dia e se tornava apenas um documento obrigatório. O cotidiano acontecia e fluía no tempo e nas interações construídos pelas crianças. O diálogo entre o planejamento anual e as propostas diárias se tornava superficial.


Penso que havia um olhar equivocado para as linguagens/campos de conhecimento. Garantir a diversidade de experiências não é o mesmo que tabelar e separar o que se aprende em cada ação. A riqueza do planejamento está em reconhecer as diversas aprendizagens presente em cada momento, em cada brincadeira, em cada pesquisa, em cada interação.


Quando o planejamento passou a ser proposto em forma de Carta de Intenções, no início de 2019, esta mudança levantou muitas dúvidas. Logo surgiu entre os professores a busca por modelos de escrita. Mas a carta de intenções não trouxe modelos, ela propôs autoria e escuta. Saímos dos tópicos e entramos no texto descritivo.


A proposta sugere que o planejamento seja alinhado á intencionalidade dos professores e aconteça a partir da escuta das crianças. A construção permite revisão, reajuste e replanejamento constante, pois a Carta não é um documento estático, é um instrumento fluido que caminha junto com as reflexões docentes e as conquistas e experiências das crianças.


A meu ver, foi uma mudança importante e precisa de reflexão, diálogo e pesquisa sobre sua elaboração e sua funcionalidade. O planejamento não segue mais um modelo rígido, ele vai ganhando forma e significado de acordo com a observação dos processos das crianças, por isso a Carta de Intenções pode se tornar uma identidade da turma e da professora que a acompanha.


REFERÊNCIA


Orientação Normativa sobre Registros na Educação Infantil 01/19







5.693 visualizações14 comentários

Posts recentes

Ver tudo

Comments


IMG_20190201_185835664pb.jpg

ANA BARBARA

Professora de educação infantil, fotógrafa e idealizadora do blog

Os textos que escrevo nessa área partem da minha experiência na educação infantil, minhas pesquisas e diálogos com outras educadoras.

bottom of page