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A narrativa e a escuta das crianças a partir dos registros fotográficos das famílias

Foto do escritor: Ana Barbara Ana Barbara

Durante os diálogos e reflexões com os grupos de estudos sobre fotografia, um dos anseios que percebo é sobre como a fotografia e os vídeos, que são linguagens adotadas na devolutiva das famílias durante o trabalho a distância, impõem grandes desafios ás professoras. Compreende-los como escuta significativa para elaborar registros escritos reflexivos traz muitas dúvidas, uma vez que a professora não foi testemunha da ação e também não criou a imagem.


Essa situação é bem instigante e nos leva a enxergar a linguagem fotográfica com mais profundidade. O historiador da fotografia Boris Kossoy, em Realidades e Ficções na Trama Fotográfica, levanta reflexões sobre a fotografia enquanto instrumento de comprovação documental em contrapartida a sua natureza ficcional. A fotografia não é a realidade, ela é uma representação da realidade segundo a ótica de quem fotografou.


Dessa forma, penso que é possível construir outro olhar para as narrativas do percurso das crianças. Ao elaborar reflexões sobre a interação das crianças, suas explorações, suas pesquisas, seus interesses e seus processos, estaremos muito mais voltadas ao campo das hipóteses e das possibilidades de leitura que as imagens proporcionam.



Penso que não nos cabe interpretar os pensamentos e vontades das crianças, mas olhar para os registros fotográficos com significado nos abre caminhos para escutar o contexto de forma mais ampla. Ao elaborar a escrita reflexiva, a partir das fotos que recebemos das crianças brincando com o kit Arte em casa* que enviamos há algumas semanas, precisei repensar minha redação.


Observei o envolvimento das famílias, a organização do ambiente escolhido, quem estava acompanhando a criança, se as imagens enviadas refletem o acompanhamento do processo ou resultados finais. Fiquei atenta a uma possível unidade na produção/construção feita por diferentes crianças e quais as relações elas parecem estabelecer ao explorarem a materialidade.



Em linhas gerais, evitamos afirmações (apesar de já fazer isso normalmente) e as narrativas foram compostas a partir dos encaminhamentos, aparentemente, dados pelas famílias e como percebemos que as crianças fizeram suas escolhas. Fiquei bem encantada ao ver como as famílias parecem ter se atentado ás sugestões enviadas: organizaram um espaço, deixaram a criança experimentar o material e fizeram várias fotos de todo o processo, não ficaram preocupadas em nos mostrar apenas um resultado.


Por fim, o foco é observar a fotografia que recebemos como expressão da família sobre as intencionalidades docentes e como elas estão escutando as crianças. Vejo os vínculos sendo fortalecidos e crianças que aprendem sempre, que precisam de muito mais experiências significativas do que direcionamento.



*O kit Arte em Casa foi composto por argila branca, gravetos, sementes, anis estrelado e palitos de sorvete. A minha parceira de turma e eu elaboramos um material escrito com sugestões e informações. As famílias retiraram o kit na escola quando foram buscar o cartão merenda.


OBSERVAÇÃO: As fotos desse post foram enviadas pelas famílias das crianças. Editei e recortei a área que aparecia os rostos para elaborar a publicação.

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1 Comment


Fabiana Balbi
Nov 09, 2020

Amei seu blog ,obrigada por compartilhar conhecimentos , vc teria um relatório modelo nos tempos de pandemia?

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ANA BARBARA

Professora de educação infantil, fotógrafa e idealizadora do blog

Os textos que escrevo nessa área partem da minha experiência na educação infantil, minhas pesquisas e diálogos com outras educadoras.

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